Biocibernética Bucal: mudando paradigmas e ampliando a visão da Boca

A Biocibernética Bucal pode se considerada uma ciência que a partir de uma visão ampla da boca e suas funções no universo do ser humano, cria, a partir de suas bases, leituras e reprogramações, e assim, novas possibilidades para que o indivíduo resgate o seu programa biológico, sua “humanidade” e sua ética pessoal com a Vida, e assim, sua saúde como um todo. Tem uma abordagem holística que respeita a individualidade e suas peculiaridades.

Tem uma abordagem holística e busca enxergar o indivíduo, como um “todo” que traz na boca e nos dentes, o reflexo de suas dores, conflitos e deformações. Aborda a fisiologia do corpo e da alma, e especialmente como o indivíduo realiza as demais funções associadas à boca como a mastigação, a deglutição, a respiração, a postura, a verbalização, condições estas, que vão refletir como o indivíduo está na dinâmica de sua vida. O indivíduo é um todo que traz em si os aspectos: físico, espiritual, emocional e mental. O aspecto mental, é único dos seres humanos e cria sua realidade física, através do pensamento, que pode estar limitado por crenças pessoais e /ou transgeracionais. A consciência está no mental, que não pode ter sua memória apagada mas pode ser reprogramado. O ser humano está sustentado por seu corpo e sua mente.

A mastigação se vê diretamente afetada pela posição das arcadas entre si e pelo engendramento dos dentes que vão configurar uma mordida específica e individual. Esta função pode estar ocorrendo de forma unilateral ou bilateralmente equilibrada. A qualidade da digestão, que se inicia na boca, pode estar afetada pela qualidade e quantidade de saliva presente; os movimentos excursivos da mandíbula podem estar “travados” ou dificultados de uma desoclusão em liberdade, configurados por pontos de contatos traumáticos ditos “prematuros”; o tempo de permanência do alimento em boca caracterizando um saborear, um degustar prazeroso dos conteúdos externos pode ser deficiente; enfim todos esses fatores e outros configuram alvos de análise para o profissional que trabalha com a Biocibernética Bucal.

A função da deglutição que é realizada cerca de 2500 vezes por dia, é também quando tocamos os dentes superiores com os dentes inferiores e está relacionada à nossa capacidade de decidir, decidir por nós mesmos. O indivíduo pode escolher o que engolir. Pode engolir o choro, a fala, seco, a raiva, sapos, etc. E pode decidir, a todo instante, engolir ou não.  O mundo entra no indivíduo pela boca. Adquire-se sabedoria pela boca e o gosto está na boca, o “sabor-saber” está na boca.

Os dentes são formados por cristais de hidroxiapatita cuja particularidade é ser capaz de captar e reter memórias. O ser humano demora 21 anos para montar sua boca com 32 dentes, característicos da espécie. Todas as memórias do que é vivenciado por 21 anos ficam incorporadas nos dentes, na mordida peculiar que se monta até os 21 anos enquanto o indivíduo monta sua identidade, sua psique (fixa padrões de comportamento). É importante ressaltar também que muitos desses padrões comportamentais, que constituem reações inconscientes, foram herdados do inconsciente familiar e do clã, constituindo memórias transgeracionais e que são armazenadas também nos dentes. É importante destacar que a cada deglutição, através do toque dentário e através do processo odontóide ou dentóide da 2ª vertebra cervical (áxis), é impressa e selada no hipotálamo, uma postura padrão adquirida. Então é selada no SNC de cada indivíduo, a cada deglutição 2.500 vezes/dia, o padrão postural de como foi organizado seu programa biológico físico, mental, emocional, de acordo com as memórias de suas vivencias até os 21 anos e todas as memórias transgeracionais (herdadas dos ancestrais). Esse padrão, é o padrão pelo qual ele vai tomar suas decisões durante a sua vida.

Aos 28 anos, o ser humano completa seu crescimento físico. O ser humano com 28 anos reflete, então, na sua mordida, a singularidade e a individualidade de sua identidade, o jeito particular e único de ocluir os dentes das duas arcadas, e isso vai refletir a programação (crenças, padrões e condutas) e o “espaço” no qual o indivíduo vai viver, se viverá a autonomia plena do “Ser” que nasceu para expressar a Vida ou não. A boca vai refletir todas as deformações que o indivíduo fez enquanto do não cumprimento do seu programa adequado. Cada dente e suas funções correlacionadas com outros sistemas corporais refletirá disfunções ou não. Uma leitura extensa pode ser feita abrindo-se o leque para adquirir novas consciências de si, de seus comportamentos e reações.

O espaço bucal adquirido quando da articulação dos dois maxilares constituirá o vazio da boca onde as funções se darão, como a respiração, que muito mais que realizar trocas gasosas reflete a capacidade do indivíduo de inspirar e expirar suas inspirações no mundo, de se sentir realizado como ser humano. O seu vazio bucal refletirá, diretamente, o que lhe cabe à luz dos conceitos. Este espaço influencia também na postura correta da língua.

A dicção durante a fala, a verbalização dos sentidos e impressões, o expressar o “percebido”, o descrever emoções depende diretamente da respiração para que o “Ser” tenha sustentação funcional na vida deste indivíduo.

Outra função importante da boca com seus dentes é a sustentação da postura da espécie. A oclusão permite ao bebê, ficar na postura bípede só quando se tocam os incisivos e 1ºs molares decíduos. A postura bípede é sustentada pelos dentes e sua noção de verticalidade sustentada pelo eixo Céu-Terra.

O indivíduo que está disfuncional perdeu a capacidade de tomar decisões por si, saiu do próprio eixo, do eixo em si. Se afastou da sua essência, da ética da Vida e da sua natureza. Introjetou padrões do externo e opera na personalidade com valores emocionais defendidos pela cultura, pela sociedade que o distanciam de si, e muitas das vezes repetindo padrões ancestrais, que trouxe do seu transgeracional, dos seus ancestrais.

Com as intervenções bucais ortopédicas e a pedagogia humana que a biocibernética propõe, o indivíduo pode se reprogramar com novas memórias, se reposturar abandonando o vitimismo, a culpabilização e assumindo responsabilidade por si, assumindo verdadeiramente seu livre-arbítrio.  O indivíduo ganha espaço intra-oral (para entrada de luz/consciência) melhorando sua respiração e deglutição, resgata seu programa adequado (se reposturando física e mentalmente diante da vida com novas percepções), abrindo-se para reflexões íntimas e para o ganho de consciência de si afim de ocupar o lugar que lhe é próprio na vida (se apropriar de si e de seu querer de alma), resgatando o sentido e o propósito de viver, a alegria de realizar. Existe um apelo inato da Vida para que se evolua pelo Bem e para o Bem, do Todo que somos.

A pedagogia humana, realizada durante o tratamento, visa resgatar no indivíduo as condições humanas, abrir um espaço para reflexão, incorporando novos padrões de comportamento, agora à luz da consciência de si. Visa dar “suporte” enquanto ele adquire novas consciências e se reprograma. Os dispositivos ortopédicos usados concomitantemente ampliam o espaço da boca permitindo uma melhor respiração e favorecendo a deglutição agora sem o registro condicionante dos dentes e proporcionando uma plastia óssea que fará surgir uma nova relação dentária sustentada por uma relação postural fisiológica. Então o tratamento visa possibilitar que o paciente se reprograme, se libertando de padrões pré-estabelecidos pelo entorno e se comprometa consigo, com seu propósito único. Que ele ouse encarar o que precisa ser encarado e mudado, enfrente os limites impostos e se arrisque por realizar a si, agindo sempre com ética.

Abre-se durante essa pedagogia humana, um leque de questionamentos como: O que seria o sentido do ser humano na existência?…qual seu sentido e propósito de vida?….o que te traz alegria?…. sente-se satisfeito?… você vive ou sobrevive?…… compromete-se com suas mudanças ou quer mudar o outro, quer mudar o mundo.?.. o que fez hoje que te trouxe alegria e trouxe alegria e bem aos outros?…..posso escolher agir ou reagir, o que escolho?…..Pode escolher não ficar estressado, ter aceitação da vida como ela é, abrir mão do controle e tomar consciência do seu próprio processo e ver sob quais valores emocionais se realiza escolhas. Pode se perceber repetindo padrões inconscientes e se reposturar de forma renovada e resignificada. Pode então, se alinhar com o propósito de ser a cada dia, um humano melhor, dono do seu querer, exercendo sua humanidade praticando a ética do bem comum engajado no serviço (ser-viço).